Depois que descobri que a Yoani Sánchez Cordero (www.desdecuba.com/generaciony) espera horas em uma fila para usar um dos dois únicos cibercafés de Havana, com um pen drive na mão, para postar em seu blog e ser umas das 31 pessoas mais influentes do planeta, acho que não tenho mais desculpa.
Cá estou eu, numa, agora reformada e com ar condicionado, lã rause da Praia do Cassino. [abre janela] Nunca entendi porque que ninguém - um bar, por exemplo - explora essa história de cassino, jogos, roleta etc. por aqui. Será que é proibido usar a temática, mesmo que a casa não ofereça os serviços? Sei lá... Ao invés disso, nesta temporada, a novidade é uma mórbida e desproporcional cruz na entrada do balneário. Deusulivre saber quem que morreu ali! Pelo tamanho daquele sinal de + a receber os visitantes o monstro devia ser grande! [fecha janela]
Dia desses um amigo falou que tudo é contexto. Gostar ou não daquele filme, da música, do lugar. Depende da companhia, do clima, do humor...
Certo é que dezembro - talvez ainda mais para mim, por conta do cumpleaño - é tempo de reflexão, de repensar a vida e entrar no novo ano com espírito renovado. Às páginas negras da Trip, o músico Rodrigo Amarante falou em uma tal de “fase que os astrólogos chamam de retorno de Saturno, quando você tem 27, 28 anos e fica naquela maluquice, não sabe direito o que vai acontecer”. [abre janela] Eu tenho uma ótima história para contar sobre a compra dessa edição da Trip. Mas esta dá um post inteiro... [fecha janela]
Pois quarta passada completei 28 e, em seguida que dei cabo do esplêndido As Intermitências da Morte - sempre o Saramago... - iniciei a leitura de Satolep, do Vitor Ramil. Foram algumas noites tentando sacar a narrativa - acho que voltando de Portugal um pouco também - até chegar a esta última, em que não dormi nada bem, a me emaranhar em meus pensamentos. Embarquei de vez na viagem do Vitor e, desde então, ando por demais inquieto. Satolep é uma viagem para dentro de nós mesmos. A tal busca do personagem principal - e talvez do próprio autor - por suas raízes, ao completar 30 anos, serve de guia para essa nossa viagem.
Não nasci em Pelotas. Assim como Irineu Evangelista de Sousa, vim ao mundo na pequena Arroio Grande, bem mais perto da fronteira com o Uruguay, país de onde partiram os ancestrais da mãe para virem parar em terras mais próximas e permitirem que, numa estação, uma professorinha do interior de Canguçu pudesse conhecer um cobrador de ônibus de São Pedro do Sul, o pai, e então se desse mais um desses encontros tão brasileiros de árvores genealógicas.
“A presença negra aqui faz de Satolep a mais brasileira de todas as cidades deste Sul branco”, diz o Cubano, personagem do livro. [abre janela] Ou alguém acha estranho que a capoeira, coisa mais brasileira, tenha se desenvolvido com tanta força na cidade e tenha tomado, inclusive, espaços pertencentes aos cetegês? Que o grupo responsável por ministrar aulas dessa modalidade na maior universidade do País, com núcleos em grandes cidades como Barcelona, Cuzco e Rosario, tenha apenas duas bases no Brasil: São Paulo e Pelotas? [fecha janela]
Sou brasileiro. Nasci em Pelotas, em 1987, aos 6 anos. “Nascer leva tempo”, também disse o Cubano. Depois de oito anos e meio a explorar as ruas da Capital, percebo que sinto ainda mais vontade de aumentar minha intimidade com Satolep. Já assisti aos shows dos irmãos Kleiton & Kledir no Teatro Guarani, nos Salões de Atos da UFRGS e da PUCRS, na casa da minha amiga Juliana, em Pelotas, num festival de música nativista, em Arroio Grande, na Feira do Livro do Cassino, no Planeta Atlântida e em tantos outros lugares e tantas vezes que não saberia recordar. Ainda assim, me emocionei ao vê-los tocar num palco montado ao lado da praça Cel. Pedro Osório, eu no meio da rua, em frente ao Teatro Sete de Abril. Ali se juntaram novamente os Almôndegas - alguns deles moradores da cidade -, e também o Vitor. O cenário, agora com a maioria dos prédios restaurados e com a praça iluminada para o Natal, não podia ser mais apropriado. Me senti em casa como há muito não me sentia em Satolep. Os habitantes ocupando seu principal local de convivência como eu nunca vira.
O olhar estrangeiro, de quem não mora nem conseguiria mais morar nessa cidade, é como um par de lentes, que adquiri em minhas andanças por portos mais ou menos alegres que esse. Com ele, enxergo melhor as virtudes e, claro, os defeitos de Satolep - estes que tanto comentamos em rodas de chimarrão, mesas de bar e nas conversas dentro dos veículos que nos levam e trazem de lá e sobre os quais não sinto vontade de falar agora.
Cá estou eu, numa, agora reformada e com ar condicionado, lã rause da Praia do Cassino. [abre janela] Nunca entendi porque que ninguém - um bar, por exemplo - explora essa história de cassino, jogos, roleta etc. por aqui. Será que é proibido usar a temática, mesmo que a casa não ofereça os serviços? Sei lá... Ao invés disso, nesta temporada, a novidade é uma mórbida e desproporcional cruz na entrada do balneário. Deusulivre saber quem que morreu ali! Pelo tamanho daquele sinal de + a receber os visitantes o monstro devia ser grande! [fecha janela]
Dia desses um amigo falou que tudo é contexto. Gostar ou não daquele filme, da música, do lugar. Depende da companhia, do clima, do humor...
Certo é que dezembro - talvez ainda mais para mim, por conta do cumpleaño - é tempo de reflexão, de repensar a vida e entrar no novo ano com espírito renovado. Às páginas negras da Trip, o músico Rodrigo Amarante falou em uma tal de “fase que os astrólogos chamam de retorno de Saturno, quando você tem 27, 28 anos e fica naquela maluquice, não sabe direito o que vai acontecer”. [abre janela] Eu tenho uma ótima história para contar sobre a compra dessa edição da Trip. Mas esta dá um post inteiro... [fecha janela]
Pois quarta passada completei 28 e, em seguida que dei cabo do esplêndido As Intermitências da Morte - sempre o Saramago... - iniciei a leitura de Satolep, do Vitor Ramil. Foram algumas noites tentando sacar a narrativa - acho que voltando de Portugal um pouco também - até chegar a esta última, em que não dormi nada bem, a me emaranhar em meus pensamentos. Embarquei de vez na viagem do Vitor e, desde então, ando por demais inquieto. Satolep é uma viagem para dentro de nós mesmos. A tal busca do personagem principal - e talvez do próprio autor - por suas raízes, ao completar 30 anos, serve de guia para essa nossa viagem.
Não nasci em Pelotas. Assim como Irineu Evangelista de Sousa, vim ao mundo na pequena Arroio Grande, bem mais perto da fronteira com o Uruguay, país de onde partiram os ancestrais da mãe para virem parar em terras mais próximas e permitirem que, numa estação, uma professorinha do interior de Canguçu pudesse conhecer um cobrador de ônibus de São Pedro do Sul, o pai, e então se desse mais um desses encontros tão brasileiros de árvores genealógicas.
“A presença negra aqui faz de Satolep a mais brasileira de todas as cidades deste Sul branco”, diz o Cubano, personagem do livro. [abre janela] Ou alguém acha estranho que a capoeira, coisa mais brasileira, tenha se desenvolvido com tanta força na cidade e tenha tomado, inclusive, espaços pertencentes aos cetegês? Que o grupo responsável por ministrar aulas dessa modalidade na maior universidade do País, com núcleos em grandes cidades como Barcelona, Cuzco e Rosario, tenha apenas duas bases no Brasil: São Paulo e Pelotas? [fecha janela]
Sou brasileiro. Nasci em Pelotas, em 1987, aos 6 anos. “Nascer leva tempo”, também disse o Cubano. Depois de oito anos e meio a explorar as ruas da Capital, percebo que sinto ainda mais vontade de aumentar minha intimidade com Satolep. Já assisti aos shows dos irmãos Kleiton & Kledir no Teatro Guarani, nos Salões de Atos da UFRGS e da PUCRS, na casa da minha amiga Juliana, em Pelotas, num festival de música nativista, em Arroio Grande, na Feira do Livro do Cassino, no Planeta Atlântida e em tantos outros lugares e tantas vezes que não saberia recordar. Ainda assim, me emocionei ao vê-los tocar num palco montado ao lado da praça Cel. Pedro Osório, eu no meio da rua, em frente ao Teatro Sete de Abril. Ali se juntaram novamente os Almôndegas - alguns deles moradores da cidade -, e também o Vitor. O cenário, agora com a maioria dos prédios restaurados e com a praça iluminada para o Natal, não podia ser mais apropriado. Me senti em casa como há muito não me sentia em Satolep. Os habitantes ocupando seu principal local de convivência como eu nunca vira.
O olhar estrangeiro, de quem não mora nem conseguiria mais morar nessa cidade, é como um par de lentes, que adquiri em minhas andanças por portos mais ou menos alegres que esse. Com ele, enxergo melhor as virtudes e, claro, os defeitos de Satolep - estes que tanto comentamos em rodas de chimarrão, mesas de bar e nas conversas dentro dos veículos que nos levam e trazem de lá e sobre os quais não sinto vontade de falar agora.
PS: Satolep é da Cosac Naify, viu, Paul?
3 comentários:
Jônatas, minha antiga versão loira (ainda deve ter alguns resquícios da tinta blondor no meu couro cabeludo), fez com que eu, curiosa sobre Satolep, saísse à procura da obra de Vítor Ramil na internet. E não é que, rindo, descubro que é Pelotas? (Bem que estranhei a foto o ver o post). Ótimo post, por sinal. El me fez ter vontade de conhecer Pelotas (estive somente uma vez lá, aos cinco anos - época em que tu ainda pensavas se iria reencarnar ou não - pra ti ver que estou velhinha).
Beijos pra ti, da colega interiorana, que também entende o lado crítico e carinhoso ao mesmo tempo ao retornar - em visita - ao interior.
Apenas para ficar registrado, a crítica à CN (e aos seus leitores) não partiu de mim, eu apenas forneci o link!
E a tua crônica está se aprimorando, muito bem Negão! O teu bruxo que jogou no gol segunda-feira te mandou um abraço!
Ai, ai... isso acontece em mim tb... sobre Satolep... Bom ler e ver que não é só comigo... principalmente o último parágrafo!
beijos
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