quinta-feira, 20 de abril de 2006

Saunterers

“Em toda minha vida encontrei apenas uma ou duas pessoas que compreendiam a arte de caminhar – que tinham o gênio, por assim dizer, do ‘sauntering’, palavra esplendidamente derivada de ‘pessoas vadias que erravam pela Europa, na Idade Média, pedindo esmola sob o pretexto de irem à la Sainte Terre, à Terra Santa’, até as crianças exclamarem: ‘Lá vai um sainte-terrer, um saunterer, alguém em busca da Terra Santa’”, escreveu o filósofo norte-americano Henry David Thoreau na abertura de seu memorável ensaio Walking (“Caminhando”).
“Os que nunca vão à Terra Santa nas suas peregrinações, como pretendiam, são, em verdade, meros vadios; mas os que lá chegam são autênticos ‘saunterers’. É certo que alguns derivam a palavra de sans terre, sem terra ou pátria, o que, portanto, no bom sentido, significará: não tendo pátria determinada, tal indivíduo tem sua pátria em toda parte. Os que se deixam permanecer em casa, quietos, sempre e sempre, podem ser os maiores errantes; mas o ‘saunterer’ não é mais errante que o rio sinuoso, cujo propósito contínuo é encontrar o caminho mais curto para o mar.”

Quem pode duvidar que o Grêmio é o time mais andarilho, mais caminhante, mais “saunterer” do continente – e em ambos sentidos da palavra tal como definida por Thoreau, o grande teórico da Desobediência Civil? Primeiro, o Grêmio não tem pátria fixa: nasceu em uma terra de ninguém que forjou seu destino e suas fronteiras; pertence, portanto, a todas as pátrias – menos, é claro, à dos manés molentes (brasileiros adeptos do futebol-bailarino). Além disso, o time está sempre em busca de sua Terra Santa: o gol do adversário. Só descansa, e ainda assim por breves instantes, quando completa a peregrinação à Meca dos títulos incontestáveis.

Não chega a ser surpresa que a inauguração de seu primeiro e glorioso ground tenha começado justamente com uma marcha, uma peregrinação, uma caminhada épica. Uma autêntica procissão.
Em um frio domingo de 1904, caminhando e cantando e seguindo a canção, os primeiros atletas, dirigentes e torcedores do Grêmio partiram em alegre bando desde a sede do clube, localizada no centro de Porto Alegre. O grupo subiu então a famosa Rua da Praia, passou pela Santa Casa de Misericórdia (e a ignorou, pois misericórdia nunca foi seu ponto forte), seguiu pela Avenida Independência, em meio a suntuosos casarões; percorreu a Rua Mostardeiro e chegou à Baixada, após descer aquilo que no Rio Grande do Sul se chama de lomba – o mesmo que “ladeira” em português.

Em 1953, ano de seu cinqüentenário, o Grêmio começou a sair da simpática Baixada, berço de sua romântica infância e da promissora adolescência, simplesmente porque ficou grande demais para o pequeno fortim.

A inauguração do campo santo do Grêmio deu-se no dia 19 de setembro de 1954, um ano e quatro dias após o cinqüentenário, com vitória sobre o velho e bom Nacional do Uruguai: 2 x 0.
Naquele memorável dia, uma procissão de gremistas – autênticos saunterers – partiu da Baixada e venceu a pé todo o percurso até o Olímpico, saindo dos Moinhos e indo até o bairro da Azenha, onde novos adversários passariam a ser moídos, reproduzindo a marcha dos que tinham inaugurado o matadouro da Schuetzverein Platz (a Praça do Tiro Alemão, como até 1910 a Baixada era conhecida) em 1904.

Trechos do livro Grêmio – Nada pode ser maior, de Eduardo “Peninha” Bueno.
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Até a pé nós iremos! Em 2006, quase 52 anos após a histórica inauguração do Monumental da Azenha, escrevemos mais uma página desta história. Como legítimos saunterers, saímos em marcha rasgando as ruas da capital, ostentando com orgulho nossos mantos em azul, preto e branco, nossos trapos e nossas bandeiras.
Primeiro, a concentração em nossa casa, no Templo do Largo dos Campeões (que não ganhou este nome sem motivo). Feitas todas as orações, partimos, caminhando e entoando os hinos da banda tricolor. E numa das cenas mais emocionantes que vi na minha vida de gremista apaixonado, atravessamos três bairros e invadimos o chiqueiro da beira-rio.

Os doudos borrachos da Geral nunca param de cantar, e as 6 mil vozes tricolores calaram as outras 51 mil, estas já acostumadas a ouvir o grito de vitória daquelas.
Como guerreiros farroupilhas, nossos heróis lutaram bravamente, mostraram quem realmente tem valor nesta terra e, triunfantes, foram saudados pelo seu povo ao final de mais uma batalha.

Os diamantes eram falsificados, a gente já sabia! O Mano sempre soube, e por isso não gastou bala em maragato, todos sabem que se preciso fosse um 4 x 0, o buscaríamos. Jogamos pelo que a regra manda e temos taça no armário. Assim é o Grêmio. Com um empate calamos o Maracanã em 97, e agora da mesma maneira mandamos os fracassados da Pe. Cacique para casa dormir mais cedo. Pena que nossos gritos e a inquietude de saberem que ainda ouvirão, com razão, os gritos de “tu nunca ganhou de ninguém!”, por muitos anos mais, não os deixariam pegar no sono mais tarde. Pobres colorados...
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By Eu mesmo, mas inspiradíssimo nas palavras do Peninha.

3 comentários:

Anônimo disse...

Divino... ;)

Anônimo disse...

Grande Nego!! Deverias ter dito quais foram os teu companheiros nesta caminhada heroica!

Anônimo disse...

Great work and thank you for your service

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See you later, thanks